Dicas para educar filhos: Um guia rápido
de disciplina infantil
Infelizmente se tornou corriqueiro, as reclamações sobre o mau comportamento de crianças e adolescentes. É cada vez mais evidente a dificuldade por parte dos jovens em obedecer a regras e reconhecer limites. Vemos o efeito disso no caos em que se encontram as escolas públicas, no aumento de crimes praticados por infratores menores de idade, e no aumento de casos atendidos por conselhos tutelares e Varas de Infância. Visto a dimensão do problema é fácil concluir que ele é de ordem social, existem diversos fatores no mundo contemporâneo que contribuem para esse problema, tais fatores fogem da capacidade de solução de uma pessoa comum como eu e você que está lendo isso.
Porém
existem algumas atitudes que você pode tomar que serão de grande ajuda na
disciplina dos seus filhos.
O QUE É DISCIPLINA?
A
palavra se origina de outra: “discípulo”, aquele que segue a um mestre. Quando
nos remetemos a mestres tais como Sócrates, Buda ou próprio Jesus. Vemos que
quem os seguia e obedeciam a seus preceitos, não fazia isso por medo ou com
segundos interesses, mas fazia isso por amor, por confiar na pessoa do mestre.
Assim como os discípulos, crianças e adolescentes aprendem muito mais com
conduta do disciplinador do que com suas palavras. Dessa forma, disciplinar não
é simplesmente impor regras, mas sim estabelecer um vínculo de confiança, e se
tornar um exemplo para o outro.
É
claro que disciplina está diretamente ligada à ideia de conjunto de regra ou
leis que devem ser seguidos. No entanto, tais regras devem ser passadas de
maneira que faça sentido e sejam vistas como sendo úteis e importantes e não
simplesmente: “Faça isso por que eu estou mandando”.
A criança indisciplinada também sofre
Não
pense que é apenas você que padece com a indisciplina do seu filho! A criança
sem limite também tem problemas. Ela sofre por ser constantemente repreendida
pelos adultos, por ser rejeitada pelas demais crianças, afinal uma criança que
não consegue obedecer a regras não pode jogar nenhum tipo de jogo (o famoso ele
não sabe brincar) e se torna chata para os outros pequenos.
Quem
é disciplinado sabe o que pode e o que não pode fazer, e tem o autocontrole para
escolher como se comportar, (daí a expressão disciplina é liberdade). Saber as
regras e as rotinas de casa e da sociedade dá a criança e ao adolescente a
sensação de segurança de entender como o mundo funciona e de como deve-se agir.
Um indivíduo indisciplinado está sempre perdido, tal qual uma pessoa humilde
dentro de um restaurante fino.
Como estabelecer limites com seus filhos?
É
fundamental que antes de estabelecer normas de conduta com crianças e
adolescentes, os pais, professores ou responsáveis reflitam profundamente sobre
as normas que querem criar:
1.
Elas são necessárias?
2.
Quantas regras eu devo impor?
3.
É realmente possível cumpri-las?
4.
Elas são realmente úteis?
5.
São justas?
6.
O que as crianças/adolescentes pesam delas?
Pensar
as regras são passos importantes para se estabelecer a ordem e o bem-estar em
locais com crianças e adolescentes. Afinal do que adianta criar uma
“legislação” completa cheia regras bobas e arcaicas cuja única serventia é
chatear os jovens?
Se
como já é sabido as regras e limites têm por finalidade manter a organização,
zelar pela segurança das crianças e ensina-las a viver em sociedade, do que
adianta criar normas que não fazem isso?
Crie as normas juntamente com as
crianças
Esse
é processo muito utilizado na educação infantil, é chamado de “criação de
combinados”. Receberam o nome combinados por que se combina com as crianças, o
que se pode e não se pode fazer e quais as possíveis sanções ou penas que os
“infratores” terão.
Tive
a oportunidade de participar desse processo muitas vezes quando trabalhei na
educação de primeira infância, e é nítido o fato de que as crianças obedecem
com muito mais facilidade as regras que elas ajudaram a criar:
Criando regras de modo que seus filhos queiram obedecer
Exponha
o problema, como por exemplo, ficar pulando sobre a cama. Explique
as consequências negativas:
· Pode-se
cair da cama e se machucar,
· Pode
pisar em falso e torcer o pé
· Vai
quebrar a cama a longo ou curto prazo(fale sobre o fator, dinheiro e ficar sem
cama)
Você
pode e deve adaptar a linguagem a idade da criança, porém não omita nenhum fato
por achar que ela não vai entender.
Claro
que a criança/ adolescente vai contestar: Algumas regras são
aceitas de pronto, porém outras serão contestadas: “eu nunca caí!” ou “não ligo
de dormir no chão” nesse ponto é que você adulto vai ter que usar o seu poder
de persuasão, explicando e colocando as contraposições em cada argumento.
Geralmente após esse processo as crianças aderem na
hora, adolescentes podem não admitir de imediato, mas você vai notar
a mudança de comportamento se você for convincente.
É
possível que diante da argumentação da criança você note que sua regra é injusta
e boba (já aconteceu comigo). Por experiência posso lhe dizer que voltar atrás
e reconhecer que está errado são um bom exemplo para os mais jovens, o que não
hesitarão em repetir o seu gesto quando eles reconhecerem que estão errados.
Crie poucas regras
Se
você criar inúmeras regras existe a grande possibilidade da criança se esquecer
ou se confundir com elas:
· Não
brigue com sua irmã!
· Não
brigue com o amiguinho!
· Não
pague as coisas da sua irmã!
· Não
mexa coisas do seu pai...
Estas
e tantas outras regras podem ser agrupadas em regras mais simples e mais
abrangente:
· Espere
a sua vez.
· Peça
permissão ao dono antes de pegar algo.
· Não
faça aos outros, aquilo que você não quer que façam com você.
Dessa
forma é mais fácil de guardar todas as orientações, e a criança vai poder
adaptá-las quando ela estiver em situações semelhantes. Educar é tornar
independente e preparar para o mundo e essa atitude torna isso mais fácil.
Não se contradiga
Pais
e professores têm o péssimo hábito de impor certas regras quando estão
nervosos, e se esquecerem delas ou fazer vistas grossas quando estão calmos ou
cansados demais para dar bronca. Você já deve ter presenciado (ou feito isso):
_ Em
um dia a criança não pode correr no quintal e no outro pode
_ Um
dia não pode assistir TV até tarde e no outro pode.
Isso deixa a criança confusa quanto a regras e tentada a quebrá-las, afinal
elas são confusas e frágeis (como as leis brasileiras).
É obvio que existem dias em que as regras podem mudar, em um dia de festa não é
justo que a criança durma no mesmo horário de sempre, e é bom para as crianças
poderem gastar a energia extra na escola. Nessas situações esclareça que os
motivos de “hoje” ser diferente:
Hoje
vocês podem correr um pouco, mas com cuidado para não se machucar.
Se possível pergunte a criança se ela gostaria de fazer isso “quer assistir TV
com o papai hoje?”. É possível que você se surpreenda com as respostas: “hoje
não quero correr, estou cansado” ou “vou dormir cedo, tenho prova amanhã”.
Seja firme, mas não seja autoritário
Ser
firme significa falar com convicção, ter certeza do que você está falando
e fazendo é melhor para a criança/adolescente. Ser firme é não ceder por
chantagem emocional da criança ou por medo do que os outros vão pensar. Ser
autoritário é impor a sua vontade de forma arbitrária sobre o outro, através da
força ou coerção de qualquer tipo, não se preocupando se elas são justas ou
não.
Assim como as pessoas tendem a se rebelar contra uma ditadura, sacrificando
tudo o que for possível para desobedecer, crianças e adolescentes fazem o mesmo
com pais autoritários.
Amor e bom exemplo
Esteja sempre próxima(o) a criança, demonstre sempre que possível o seu afeto e
nunca se esqueça de dizer que os ama. Ser aceito e amado é essencial para todo
o ser humano. Quanto mais confiança e afeição seu filho/aluno nutrir por você
mais ele (a) vai querer te agradar e seguir suas orientações são com certeza
uma boa forma de te deixar feliz, não é?
Com crianças e adolescentes o axioma hipócrita “faça o que eu digo e não faça o
que eu faço” não funciona. Suas atitudes devem condizer com suas ações ou nada
feito. Você não quer que seus filhos falem palavrão? Então não fale palavrão!
Não quer que seus alunos se sentem sobre a mesa? Então não se sente na sua
mesa!
Demonstre sua reprovação e sua aprovação
Quando
a criança ou adolescente quebrar alguma regra é necessário que você demonstre
claramente que desaprovou tal ato, o olhar de desaprovação ou desapontamento
pode ser muito útil, mas às vezes não são claros, por isso fale! Diga que está
decepcionado (a), que não gostou de tal atitude etc.
Lembre-se
também que quando a criança fizer algo de positivo é fundamental ser valorizada. Elogie,
fale sobre o feito para outras pessoas na frente dele.
Essas
atitudes aumentam muito a probabilidade de o jovem evitar fazer a ação
indesejada e repetir mais vezes o que se espera dele.
Punir ou não punir?
As
punições, castigos ou penas são parte muito importante do ato de estabelecer
limites e disciplinar. Contudo essa parte é muito delicada, pois se o castigo
for severo demais poderá acarretar mais prejuízos que benefícios. Se for muito
leve não vai obter efeito nenhum.
Tipos de punições e suas consequências
Broncas: elas
são até úteis de vez em quando, mas se utilizar demasiadamente este recurso ele
perde a força e passa a ser inútil, apenas uma chateação sem sentido.
Gritos: São
considerados uma forma de agressão, o adulto é humano e como tal pode perder a
paciência e se utilizar desse recurso. Porém ele é falho por dois motivos, o
primeiro é que assim como o sermão, ele perde a força quando muito usados, o
segundo e que a relação com uma criança/adolescente é exatamente igual a
relação com outro adulto, se você começa a gritar com outro adulto em uma
discussão perde imediatamente a razão.
Palmadas e punições físicas:
existem basicamente dois tipos de pais que batem em seus filhos, os malucos, e os que batem por que estão nervosos. Acredito que não preciso falar sobre os do primeiro tipo, já os do segundo tipo costumam se arrepender de ter batido e tentam comprar o perdão dos filhos com carinhos e presentes desnecessários (aliás, esse fenômeno é considerado a causa do comportamento masoquista em adultos). Assim punições físicas costumam a aumentar a incidência de mau comportamento. Além disso, as crianças que sofrem punições físicas recorrentes tendem a ter baixa autoestima, se sentirem injustiçadas e ter necessidade de chamar a atenção. Como já vimos estas são causas de indisciplina.
Crie as punições juntamente com seus
filhos: Após ser tratado o problema e criado as regras.
Estabeleça as penas e “castigos” que devem sofrer as pessoas que quebram os
combinados. Ao contrário do que se possa imaginar, crianças costumam
impor penas severas.